domingo, abril 27, 2008

mais saudades


(…) Saudades de ti? Não tenho a certeza, serão saudades de ti, ou de mim?
As mãos húmidas da noite, escura, fria e tenebrosa, tentavam desesperadamente atravessar as vidraças que me separavam dela. Ao longe, o rugir das ondas batendo fortemente nas rochas levava-me para um outro mundo, o mundo dos sonhos.
Deixei-me inebriar, deixei que os fantasmas da noite tomassem conta de mim, e para eles, pus música, exaltante, extasiante. Pensei em ti, em tudo o que vivemos, saboreei cada momento e em cada um deles redescobri a minha capacidade de amar, perdida no tempo, adormecida nos anos, que passaram velozes por mim.
Lembro-me que pensei: “vivi estes momentos, ou tudo não passou de um sonho? Sonho lindo com sabor amargo”.
Quando acordei, o sol brilhava, acariciando muito ternamente aquelas águas tão azuis, tão aparentemente inocentes, as águas que na noite anterior tinham embalado o meu sonho, o meu sono. Saí para a rua e fiquei-me a contemplá-las, a pensar em como a quietude anda de mãos dadas com a turbulência, mostrando, ora uma face, ora outra.
Depositei naquelas águas tão tranquilas, tão azuis, tão imensamente grandiosas, a minha esperança. Soube, naquele momento, que nunca mais seria a mesma, que mais um marco tinha sido colocado no caminho da minha parca existência. A vida é feita de pequenos incrementos, cujo somatório nos conduz aquele ponto crucial, que é a morte.
Dizem que na morte surgem, por momentos, todos esses incrementos, separados por marcos, mas ninguém sabe muito bem o que é a morte, para mim, é apenas um somatório, um resultado final, um limite.” (…)

sexta-feira, abril 25, 2008

saudade

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pulando daqui para ali cheguei à voz

«Na verdade, não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós o seu objecto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.»
(Mitologia da Saudade)
Eduardo Lourenço

sábado, abril 19, 2008

sexta-feira, abril 11, 2008

Aníbal Barca

J. M. W. Turner

segunda-feira, abril 07, 2008

«tempo vai tempo vem»*

Numa luta contra o tempo escrevo apago e reescrevo: balanças erlenmeyers, buretas pipetas potenciómetros iogurtes méis espectofotómetros planos de estudo equivalências programas diagramas.
Num sufoco desmedido abafo o sentimento arraso a emoção enalteço a razão e dou por mim sem conseguir dizer não.
Num desânimo concreto escrevo estas palavras sem nexo em modo de desabafo discreto.
Numa fracção de segundo vêm-me à memória a imagem de momentos felizes a história da menina dos dias felizes**.
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*Histórias de Tempo Vai Tempo Vem de Maria Alberta Menéres, lidas no silêncio da noite.
** Personagem de uma história da minha infância.

sábado, abril 05, 2008

muros

foto tirada da net
muros são silêncios feitos de pedra. Não gosto de muros! as palavras retornam-nos fazendo ricochete atingindo o coração das respostas que não temos. Não gosto de muros...